Bokashi de permacultora

Permacultura como sadhana

Um princípio da permacultura bem importante é o uso de recursos locais ou…

“ O problema é a solução ”.

Leis da Natureza

Torta de mamona, pó de rocha, adubos orgânicos e estercos animais de fato são mais sustentáveis e ecológicos que os adubos químicos de origem mineral, mas quando falamos em “sistemas intensivos em pequena escala” que é a Grande Sacada da permacultura, ainda assim demandam  embalagem, transporte e uma cadeia que é preciso rever e reconstruir porque acaba consumindo mais energia, combustíveis fósseis e recursos do planeta do que produzindo.

“Consumir mais do que produzir” é a raiz escondida da grande crise atual. Isso porque o Planeta não está conseguindo repor o que estamos tirando: a média é de 10 calorias de energia gastas para 3 calorias geradas. Muito pouco eficiente, não? Os efeitos disso são: mudanças climáticas, 80% de biodiversidade ameaçada, crise hídrica, solos exaustos e improdutivos e, portanto, RISCO DE FOME E CAOS SOCIAL. Ou alguém ainda pensa que as guerras e crises atuais não tem nada a ver com isso?

Quem mora no campo sabe. Produzir alimento comprando adubos de fora e ter abundância de água para irrigar está cada vez mais caro e  inviável.

Por isso, eu me mantenho firme nas soluções pequenas e lentas, e na simplicidade voluntária. Embora deva confessar que é grande a tentação de importar insumos, posso dizer que  as pequenas podas doadas pelos  vizinhos e a ciclagem de nossos próprios nutrientes tem aumentado de forma escalonada aqui em casa e eu estou sendo testemunha viva da sintropia, quando 1+1 é mais que 2, que vai se estabelecendo conforme todo o sistema em torno da casa evolui junto conosco. O bom é que a natureza é abundante quando a gente aprende a trabalhar com ela.

Agricultura regenerativa
LARbortatório Guia de Permacultura: agricultura regenerativa em área de campo sujo arenosa, árida e degradada, sem importação de insumos e adubos químicos, usando apenas recursos locais e a sucessão natural

O Bokashi permacultural

O bokashi é um adubo orgânico vivo, em que os nutrientes essenciais como nitrogênio, fósforo e potássio ficam mais disponibilizados pela presença de microrganismos eficientes e leveduras que são inoculados no composto.

A base do bokashi convencional  são os farelos e cascas vegetais e mais uma série de ingredientes que são fonte dos nutrientes citados acima além do mais importante que são os microrganismos e o açúcar, que é o alimento para eles.

No meu caso, eu sigo o mesmo princípio, mas uso o que tem disponível e não compro nada. Por isso a estou chamando de…

Bokashi permacultura

Ingredientes do meu bokashi permacultural

– 3 carrinhos de terra vegetal

– 2 carrinhos de esterco humano coberto de serragem curtido no Sol por 6 meses e manejado com luvas, botas, máscara e pás

Permacultura e esterco

– 100 gramas de cinzas

– 100 gramas de fosfato natural da Yoorin (que eu não sou de ferro…)

– 1 balde de 60 litros de xixi humano (Sobre a segurança do uso do xixi humano na agricultura, veja nossa postagem)

– 1 balde de sangue da lavagem dos meus absorventes reutilizáveis

– Vinagre de folhas de malva feito aqui em casa. Pode ser feito com qualquer planta aromática abundante em seu quintal. Pus bastante folhas num balde grande de 60 litros, cobri com água, acrescentei rapadura ralada, tampei bem e esperei virar vinagre: processo anaeróbio, deve sair gás, mas não entrar. Por isso não mexa e vede para não entrar moscas.

Fermentado
Fermentado de malva, cultura de microrganismos acrescida de casca de abacaxi e mofo de laranja. Para regar diluído em água sempre sobre o monte do bokashi até ficar pronto.

– Microrganismos eficientes (EM) feitos em casa da mesma maneira que o vinagre de folhas de malva, com o mofo verde da laranja e mofo do arroz enterrado num lugar em que a terra tenha cheiro bom, de floresta, por 15 dias. Diluir um pra 20 no regador e regar diariamente até a transformação completa do monte.

– 1 carrinho de húmus de minhoca feito com os restos da cozinha

-Restos e grãos e cereais carunchados da cozinha

Modo de fazer:

O local aonde o bokashi irá ficar fermentando deve ser fresco e sombreado. Lembre-se: Você estará reproduzindo e inoculando no monte uma colônia de microrganismos decompositores vivos e benéficos.

Faça uma cama com lona cobrindo a parte de baixo aonde irá o material, bem como uma cerquinha para reter o monte.

Bokashi passo a passo

Vá fazendo camadas com todos os ingredientes, misturando com enxada

Regue com o xixi e a água da lavação de paninhos de sangue

A camada mais superficial será o húmus de minhoca, pois se o ambiente estiver ácido demais por causa do xixi ou muito básico por causa do sabão da lavagem dos panos, elas não irão sofrer, pois estarão ainda por cima, juntas no húmus, aguardando o momento certo para descer e trabalhar o material.

Regar o comsposto sempre que secar um pouco com vinagre e mais microrganismos diluídos em água: 20 de água para 1 de vinagre com EM. Misture de vez em quando 1 xícara de rapadura ralada na água.

Agricultura natural

Dicas importantes:

– O vinagre e os microrganismos vão ajudar a desinfetar o monte garantindo a higienização contra possíveis patógenos das fezes humanas. Também é muito importante manter o monte sempre úmido.

– Usar luvas é bem importante e ultimamente eu estou optando até por usar máscara. Manejar nosso próprio esterco é um ato de coragem, mas é necessário ser rigoroso pois é sim toda a impureza que é expelida pelo nosso corpo, ao contrário do xixi, que depois de algumas horas de exposição ao ar é inerte. Como dizia Lacan, você conhece uma sociedade/pessoa pela maneira como ela lida com os seus restos / lixo /dejetos.

Use luvas, esterco humano– Tampe o material e mantenha tampado durante todo o processo. Você não quer que seus microrganismos sejam mortos esturricados pelo Sol.

Proteger do Sol os microrganismos
Mantenha sombreado

– O bokashi estará pronto quando a terra estiver preta, com cheiro de terra de floresta. E totalmente decomposta, sem nenhum resquício dos pós e materiais originais que foram misturados,  que leva pelo menos 2 meses.

Para sermos coerentes com a proposta da agricultura natural selvagem, ele deve ser utilizado apenas como inoculante de microrganismos, em pequena quantidade, em cima da cobertura vegetal, restos de poda e palhada picada. Ele vai ajudar a decompor os restos vegetais e transformá-los em solo. Ele não é a base de um solo. A base de um solo vivo e de um alimento vitalizado é a ciclagem da matéria orgânica de origem vegetal, a biomassa.

– Usar o bokashi em dias frescos para evitar de matar os microrganismos pela exposição ao Sol.

Sobre o esterco humano na agricultura

Fukuoka
De Masanobu Fukuoka, agricultor estudioso da agricultura natural, com excelentes resultados práticos

Ao invés de esterco de animais, resolvi usar o esterco humano . O esterco de vaca é algo sobre o qual tenho refletido. É um insumo caríssimo de ser produzido: custa o preço de nossas florestas, da degradação de nossos solos, da compactação de nossas nascentes.

O esterco de minhas galinhas utilizarei na horta. E esse bokashi será usado nos canteiros agroflorestais aonde não há hortaliças para uso na cozinha. O uso de esterco humano é criticado pelo fundador da agricultura natural Mokiti Okada, mas Fukuoka, que foi um dos maiores praticantes da agricultura natural no estilo selvagem, defendia seu uso.

De fato, dentro de uma perspectiva filosófica, o homem em harmonia com a natureza e a terra, não precisa de usar estercos para cultivar, pois os solos são equilibrados. Isso se reflete nas pessoas que se tornam também mais saudáveis e na humanidade que se torna mais pacífica.

Hoje, entretanto, toda hortaliça que chega na cidade está cheia de esterco animal. Falta ainda fazer essa discussão dentro dos grupos vegetarianos, pois mesmo ao escolher os vegetais por serem mais ecológicos, continuam a depender dos animais.

Trabalhar com a natureza
De uma agricultura (pseudo) científica a uma agricultura natural

A permacultura veio da agricultura natural e por muito tempo eu quebrei minha cabeça pra entender por que então somos na permacultura a favor do esterco humano, sendo que ele é algo impuro que produz um “mascaramento” da vitalidade de nossos alimentos.  É verdade que o esterco ajuda as plantas a ficarem com folhas maiores, por causa do nitrogênio. Mas planta “bombada” de nitrogênio não necessariamente é mais saudável.

Ciclos e padrões naturais
Padrão natural: o ciclo; o eterno retorno

A chave de toda a questão é o “ciclo”. Um dos maiores problemas da atualidade são os ciclos abertos. O homem está contrariando a natureza, por que é assim que ela funciona. Tudo à terra retorna. Nossas fezes estão a acidificar o mar, porque é pra lá que elas vão depois de dada a descarga: do rio ao mar. Ou vão para estações de tratamento de esgoto aonde recebem adição de minerais esterilizantes e com isso se perdem os microrganismos tão fundamentais a vida do solo.

Por isso,  sou a favor de usarmos o esterco disponível seja ele qual for. Mas sempre sempre use luvas e faça o trabalho de curtir/desidratar o material porque sim ele tem vermes e pode ser vetor de doenças.  Outra opção é usar o biodigestor e matar os patógenos aeróbios de forma anaeróbia.

Sobre

Marina Utsch e Peter Cezar apresentam no Guia de Permacultura os princípios para criar sistemas eficientes e autossuficientes em energia.
Por meio da observação da Natureza é possível reverter o atual estado de degradação em que a EROI (Energia retornada em comparação com a energia investida) na extração dos minerais e combustíveis não renováveis vem baixando de 100:1 para 3:1. Estamos próximos da exaustão?
Na dúvida, o Guia de Permacultura te ajuda a se preparar para os cenários futuros.
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